O vírus da imunodeficiência humana (HIV) pertence ao grupo dos retrovírus, como são chamados os vírus que têm seu material genético composto por ácido ribonucléico (RNA), e não ácido desoxirribonucléico (DNA), material genético mais comum nas células. Está incluído ainda na família dos lentivírus, que reúne os vírus causadores de doenças que demoram muito a se manifestar (têm grande período de latência). É um retrovírus não-citopático (não destrói as células em cultura no laboratório) e não-oncogênico (não causa câncer). Para multiplicar-se, precisa da enzima transcriptase reversa, que promove a transcrição de seu RNA, gerando uma cópia DNA que pode se integrar ao genoma do hospedeiro e provocar em seu sistema imunológico os efeitos danosos que caracterizam a AIDS. O HIV compartilha muitas propriedades morfológicas, biológicas e moleculares com outros lentivírus que afetam animais, incluindo o vírus visna, o vírus da encefalite-artrite caprina e vírus da anemia infecciosa eqüina. (MALBENGUIR, 2000, p. 15)

No início da década de 1980, o surgimento do vírus HIV/AIDS , ocasionou grande impacto em toda a sociedade. Na época a AIDS foi vista como uma doença que atingia apenas homens homossexuais, o que ocasionou uma gama de estigmas e preconceitos. Os primeiros casos notificados segundo Fonseca (2002) de pessoas atingidas pelo HIV/AIDS ocorreram no ano de 1982 e como em todos os países atingidos por essa infecção, no Brasil acreditava-se que as vítimas eram jovens homens homossexuais das classes alta e média alta, que possuíam condições financeiras para viajar pelos diversos países do mundo. O que disseminou o vírus ideológico do preconceito, da discriminação, do pânico e da exclusão social.
O medo da contaminação apenas prova que a população sabe da existência da AIDS, porém, desconhece suas formas de contágio. Rodrigues (1994) preconiza que no início da epidemia, o doente de AIDS muitas vezes via-se abandonado pela família, discriminado por colegas de trabalho e até rejeitado por profissionais de saúde. De acordo com o Ministério da Saúde no Brasil, o governo iniciou a luta pelo combate à AIDS de forma tímida, pois justificava a letargia de suas ações para implementar programas de prevenção afirmando que existiam poucos casos para pesquisas caras, e que as vítimas da AIDS possuíam condições para custear o próprio tratamento.
Além do mais, o governo alertava que havia questões mais emergenciais, como as doenças endêmicas que existiam no país e que matavam mais do que a AIDS. Ressaltando que o forte conservadorismo que permeava o governo não permitiu que se dessem respostas a uma doença que atingia pessoas com comportamento tido como promíscuo. O que permitiu o alastramento da infecção entre a população que foi sucumbida entre o preconceito e o descaso do Governo.

9.2 A PROLIFERAÇÃO DA AIDS ENTRE OS IDOSOS

A AIDS exige dos governos desde a década de 80, competência para levar a mensagem do sexo seguro ao grupo aparentemente mais vulnerável. Mas, agora a doença avança sobre uma parcela da população fisicamente fragilizada e de abordagem mais complexa: os idosos. Com o aparecimento de medicamentos para disfunção erétil , como o Viagra, e de artifícios como as próteses penianas são apontados pelos especialistas como os fatores que contribuíram para esse quadro. E o que mais chama a atenção é o aumento da qualidade de vida dos idosos que conseqüentemente está relacionado à atividade sexual. De acordo com Ana Paola Vasconcelos:
No Brasil, de 1989 até junho de 2005, o Ministério da Saúde diagnosticou 7.776 casos de contaminação pelo HIV na população com 60 anos ou mais de idade. Em 1989 foram registrados 113 novos casos; no ano seguinte, foram 157. Dez anos depois, em 1999, foram diagnosticados novos 571; culminando com 894 novos pacientes em 2004. O número de casos confirmados de AIDS com idade acima de 50 anos cresce no Brasil como em nenhuma outra faixa etária. Entre os homens, a expansão foi de 98% na última década. Sobre a parcela feminina idosa, a epidemia avança como um rolo compressor: houve um crescimento de 567% entre 1991 e 2001. (Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 2007, pg. 15)
Mas há várias explicações para esse número gradativo de contaminação pelo HIV/AIDS entre os idosos. O primeiro segundo Freihat (2003) é o incremento da vida sexual dos mais velhos favorecidos pelos remédios contra impotência . Depois, há o aumento da expectativa e da qualidade de vida proporcionado principalmente por medicamentos com menos efeitos colaterais. Ou seja. Com mais vigor, os idosos passam a se divertirem e se relacionarem de uma forma bem mais satisfatória entre eles. O que configura uma situação de risco.
Pela falta de conhecimento ou até mesmo noção da gravidade, o sexo entre essa população é praticado sem proteção, homens e mulheres com mais de 60 anos, tem a percepção de que não correm risco de serem infectados. Isso pode ser explicado devido à geração que vieram, pois cresceram sem os holofotes da disseminação da AIDS e por isso vivem como se fossem imunes ao vírus.
O crescimento de casos de idosos portadores do HIV coloca um grande desafio à medicina e aos governos. Isso porque algumas peculiaridades precisam ser consideradas no que diz respeito ao tratamento e às políticas de prevenção. Como impedir a proliferação da AIDS nessa população e como encontrar o melhor tratamento que leve em conta as limitações físicas dos idosos são questionamentos ao qual a medicina corre atrás das respostas enquanto aplica os recursos de que dispõe.
Atualmente o coquetel de drogas anti-retrovirais, que atacam o vírus, é a conduta-padrão de terapia. O problema é que uma pessoa mais velha em geral já é portadora de doenças como diabete e distúrbios cardiovasculares , enfermidades que podem ser agravadas pelo uso dos medicamentos contra a AIDS. Por isso, é preciso escolher aqueles que apresentam menor risco de complicações.
Outro desafio é identificar a doença rapidamente. Como se trata de um cenário novo, os profissionais de saúde não estão habituados a pensar em AIDS como uma possibilidade de diagnóstico. O resultado é que não são poucos os casos de pneumonias e diarréias tratadas como sintomas de qualquer outro problema, menos a AIDS. A mesma coisa ocorre com a demência, sinal de males típicos do envelhecimento, como o mal de Alzheimer , mas também com chance de acontecer com soropositivos .

10 GRUPO DE CONVIVÊNCIA PARA IDOSOS: RISCO OU DESCONTRAÇÃO ?

Hoje a inserção de idosos em grupos de convivência tem aumentado significativamente, na medida em que há acréscimo de indivíduos com 60 anos de idade ou mais. A imagem de uma velhice monótona, sofrida e estereotipada perde aos poucos sua força, a partir do momento em que os indivíduos passam a freqüentar espaços sociais, adquirem conhecimentos e compartilham seus saberes.
A possibilidade de conhecer novas pessoas, construir novas amizades, realizar atividades e exercícios físicos, divertir-se, entre outros, são motivos apontados pelos idosos para que passem a freqüentar um grupo de terceira idade. Enfim, diversas são as vantagens de estar inserido em determinado grupo. Entre elas, destaca-se a possibilidade de que os idosos voltem a construir laços afetivos. Isto ocorre principalmente entre os participantes de grupos cuja finalidade, além da socialização, é dançar.
Veras (1994) ressalta que a partir da concepção de que a terceira idade é uma etapa de independência, maturidade e tempo de usufruir, atribuições ligadas ao dinamismo, a atividade ao lazer, os idosos passam a invadir progressivamente os espaços públicos, criando estratégias de sociabilidade que lhes permitem tecer novas relações sociais e fugir do isolamento.
Nesses espaços conforme destaca a Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia (2007) muitos dos idosos começam um novo relacionamento, passam a namorar e alguns realizam contrato nupcial. Essa situação pode ser considerada favorável para o conjunto de pessoas que freqüentam tal atividade, particularmente no que diz respeito ao exercício da sua sexualidade. Contudo, deve-se estar atento, uma vez que essa condição possibilita contato mais intimo, e se não forem observadas as medidas de precaução, poderá ocorrer a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis e o vírus da imunodeficiência adquirida, de uma pessoa para a outra.
Cabe lembrar que, no geral, especialmente as mulheres, o cuidado em relação ao sexo seguro vincula-se à possibilidade de uma gravidez, mas na velhice essa situação deixa de ocorrer. A partir desta concepção, na velhice parece haver maior liberação para o exercício da sexualidade sem quaisquer restrições em termos de prevenção, uma vez que os aspectos relativos às DSTs e HIV/AIDS podem não constituir preocupação para essa parcela da população.

11 PROFISSIONAL DA SAÚDE E A AIDS NA TERCEIRA IDADE

A prática em saúde de acordo com Saldanha (2003) tem acompanhado a perspectiva vigente, acentuando, de certa forma, a discrepância entre o conhecimento científico e as demandas psicossociais exigidas pelo atendimento aos idosos portadores de HIV, requerendo dos profissionais uma postura mais voltada ao aspecto afetivo das relações, colocando-os frente a suas próprias limitações diante de uma realidade fragmentada. Alves (2002) ressalta nesse sentido que:

A AIDS trouxe consigo a necessidade de reformular a estrutura no atendimento em saúde já estabelecida, impondo a necessidade de atenção ao paciente como um todo e não apenas a um órgão doente. Trouxe também a demanda de lidar com questões afetivas e sociais, antes relegadas a segundo plano, fazendo emergir o despreparo e a desorientação que envolve os profissionais de saúde no trato psicossocial da doença, enquanto o tratamento clínico é favorecido por constantes descobertas. (ALVES, 2002, p. 51)
Dessa forma, a cronicidade da AIDS coloca os serviços de saúde, representada pelos profissionais que lidam diretamente com a doença, num patamar extremamente importante, não só para garantir a adesão dos pacientes, mas para que se tornem um elo entre o paciente, a doença e o tratamento. Nesse sentido, torna-se relevante compreender a problemática que envolve os serviços de atendimento à AIDS na terceira idade. Essa tarefa se faz tão importante quanto os fenômenos de prevenção primária, contribuindo com o processo e exercício da cidadania no âmbito da saúde.

11.1 PREVENÇÃO DO HIV NA TERCEIRA IDADE

E nesse contexto reascende a questão que em uma sociedade onde não é estimulado o diálogo aberto, é complicado incutir uma motivação para a adesão a estratégias preventivas e orientação para práticas que diminuam a vulnerabilidade dos idosos com HIV e nesta perspectiva se valoriza a elaboração de programas visando informar, sensibilizar e educar em todos os contextos sociais e etários, assim como se sugere o estímulo a cursos de capacitação para profissionais de saúde e integrantes das redes de atenção básica, objetivando um atendimento mais qualificado.
A presença de tais profissionais poderia possibilitar a sistematização de tarefas, evitando hospitalizações, asilamento e outras formas de segregação, que implica graves prejuízos para os idosos, que, além de conviver com aspectos inerentes à velhice, enfrenta as vicissitudes de ser portador do HIV/AIDS. Entretanto a desinformação sobre os riscos do HIV tem como conseqüência a vida sexual ativa sem proteção o que contraria o mito existente a alguns anos, de que idosos não praticam sexo (GALVÃO, 2001).
Contudo a prevenção tem se configurado como um problema para os programas de controle do HIV/AIDS desde o início da epidemia. Essa questão era decorrente da falta de conhecimento acerca da doença. Mesmo esse quadro tendo sofrido substanciais alterações, devido às descobertas feitas da ação do vírus e do progresso obtido no tratamento da doença com a terapia antiretroviral, as medidas preventivas desenvolvidas não são suficiente para diminuir os determinantes da vulnerabilidade ao HIV/AIDS.
Conforme preceitua Fonseca (2002) a crença inicial de que o HIV/AIDS estaria voltado apenas a determinados “grupos de risco” ainda continua sendo um obstáculo para a prevenção em diversos segmentos populacionais como os idosos, de forma que as atuais políticas de prevenção, em geral, estão voltadas de forma substancial para o público adolescente. Contudo, adultos e idosos também apresentam uma sexualidade ativa para serem simplesmente descartados das políticas de prevenção, cuja função é informar, sensibilizar e educar em todos os contextos sociais e etários. As políticas preventivas, segundo Deluiz (1995), estão geralmente voltadas para as populações consideradas de risco.
No entanto é preciso uma ação educativa por meio de campanhas mais acessíveis e adequadas às realidades locais em que os idosos estão inseridos, com o intuito de apresentarem uma maior efetividade nos seus resultados.
Em 2008, por exemplo, o Ministério da Saúde, lançou uma campanha, sobretudo voltado para homens e mulheres com idade superior a 50 anos, cujo tema era “Sexo não tem idade. Proteção também não”. Até o momento, de acordo com a Organização Mundial de saúde (OMS) apresenta-se como a campanha de maior repercussão para os indivíduos com mais de 50 anos no Brasil, contribuindo para o aumento da visibilidade do tema e medidas preventivas.
Nesse sentido percebe-se que as estratégias de prevenção para o HIV/AIDS, devem considerar a necessidade de criação de espaços nos quais sejam possibilitadas discussões e reflexões, que facilitem o esclarecimento de crenças e percepções que ainda fazem parte do imaginário social, e que possam orientar envolvimentos afetivos, para não serem percebidos como relacionamentos imunes, sendo dispensado o uso de medidas preventivas.
Os grupos de convivência da terceira idade podem configurar-se como importantes lócus para o desenvolvimento destas estratégias, de forma que a inserção da temática AIDS nestes grupos pode possibilitar, aos seus participantes rever, de forma compartilhada, seus papéis e expectativas, visando o auxílio na prevenção ou na construção de uma convivência mais positiva com esta síndrome (FIGUEIREDO, 1994).
Dessa forma, o problema da prevenção é bem mais complexo do que escolher o público-alvo de uma campanha ou designar a forma de repassar a informação. Os agentes comunitários, e demais integrantes que atuam na atenção primária a saúde também apresentam representações permeadas por estigmas e preconceitos, sendo igualmente sugerido para estes o estímulo a cursos de capacitação e espaços de discussão sobre temas recorrentes nas suas atividades.
É importante ressaltar que com estas sugestões a profissionais e agentes não se está desestimulando a elaboração de estratégias voltadas para os idosos, mas se está sugerindo que se forem ampliadas as medidas visando à prevenção, resultados mais efetivos tendem surgir.
Por fim, além destas estratégias secundárias e da elaboração de políticas, propõe-se como medida preventiva, agora diretamente aos idosos, uma alternativa ao preservativo masculino, que, como já foi enumerado, carrega consigo certa resistência. Tal alternativa é o preservativo feminino, que de acordo com os estudos de Parker (2000) neutraliza os argumentos de perda da sensibilidade e receio de perder a ereção tão enfatizada pelos homens, apresentando a mesma eficácia no controle à transmissão das DSTs.

11.2 A REALIZAÇÃO DO TRATAMENTO

De acordo com o médico Infectologista Jean Carlo Gorinchteyn em uma entrevista na revista Prática Hospitalar (2005):
O tratamento de idosos com HIV/AIDS é, absolutamente, semelhante àquele instituído aos pacientes de outras faixas etárias, exceto a faixa etária pediátrica, onde algumas drogas não são utilizadas. A escolha da terapêutica anti-retroviral deverá considerar as condições clínicas, imunológicas e virológicas do paciente por ocasião do diagnóstico, assim como considerar a presença de co-morbidades, sejam estas oportunistas ou não, como diabetes, dislipidemias, hipertensão arterial, etc., visando, assim, reduzir os riscos de agravo de doenças preexistentes, além de obter de forma mais precoce a reconstituição imunológica.(Revista prática hospitalar, março/abril, 2005)
O que torna evidente um tratamento com atendimento pormenorizado, respeitando-se não só suas limitações físicas, como necessidades individuais, preocupando-se, inclusive, com suporte psicológico e social. A abordagem multidisciplinar é de fundamental importância, devendo-se ter retornos clínicos e exames laboratoriais periódicos, com intervalos mais curtos. A avaliação psicológica, da assistente social e nutricional é, igualmente, importante para detectar eventuais condições que comprometam o sucesso do tratamento instituído.
Muitos dos pacientes ao descobrirem que são portadores do vírus, já estão com o organismo debilitado, em conseqüência de distúrbios comuns ao processo de envelhecimento. A maioria fica sabendo da doença ao realizar algum exame solicitado pelo médico por causa de outro problema de saúde. E mesmo que pela descoberta de ser um soropositivo seja um fator de surpresa para a maioria dos idosos, muitos deles vêem a AIDS como uma doença a mais na vida.

12 O COMPORTAMENTO DO IDOSO APÓS DIAGNÓSTICO DA AIDS

O impacto da notícia do diagnóstico positivo, desperta reações e sentimentos desestruturantes, como angústia, medo, desorientação e culpa. A busca por tratamentos médicos e auto-cuidado tornam-se meios de enfrentamento. A necessidade de silenciar-se em relação à sorologia positiva se faz presente no intuito de afastar o preconceito e a discriminação. A AIDS e a condição de soropositivo para o HIV são incorporadas à vida destas pessoas de maneiras polarizadas: para uns é vista como mais um aspecto a ser vivenciado, não interferindo no modo de vida anterior ao diagnóstico, enquanto que para outros a soropositividade torna-se um incômodo constante e conviver com ela passa a requerer muito esforço. A despeito de mitos e crenças sobre a sexualidade do idoso, os resultados encontrados nos coloca frente a uma realidade que não pode ser ignorada, exigindo um novo dimensionamento para a concepção de futuros programas destinada à orientação e suporte a pessoas de terceira idade. (PROVINCIALI, Dissertação, 2006)

Conseqüentemente o idoso ao se deparar com a doença tende isolar-se dos familiares e amigos. Isso quando não escondem o diagnóstico da família, dos vizinhos e dos chefes. O que traz preocupação aos mais próximos já que o idoso entra em estado de depressão e geralmente culmina em morte súbita por falta de maiores cuidados. A necessidade de silenciar sobre o contágio por HIV se apresenta no intuito de afastar a discriminação (CAPODIECE, 2000).
As dificuldades apontadas pelos idosos no viver com HIV não se restringiram a limitações físicas, necessidade de acompanhamento clínico ou uso contínuo de medicamentos e suas eventuais conseqüências. Apontaram também para sentimentos de solidão, isolamento e receio de discriminação na família e no serviço de saúde.
Segundo Figueiredo (1994) a identificação de particularidades nos aspectos psicossociais do viver com HIV/AIDS na terceira idade pode ser útil para subsidiar políticas públicas de cuidado a essa população nos serviços especializados, além de permitir a inclusão de abordagens preventivas nas ações que integram a atenção à saúde do idoso.
Contudo a AIDS trouxe à tona, de maneira nova e assustadora, os fantasmas construídos no imaginário social sobre a sexualidade e a morte, o desfiguramento e o enfraquecimento físico, a vulnerabilidade e o risco visto na cara do outro. Assim, o estigma, a dor da própria enfermidade e a dor dos olhos dos outros, o medo da rejeição, principalmente no ambiente de trabalho, e o sofrimento causado pelo preconceito e pela possibilidade de ser discriminado passam a afetar, de forma contundente, os idosos com o HIV.
Sentimentos de ansiedade, perseguição e dúvida podem vir a constituir fontes estressoras no seu cotidiano. Vale ressaltar que após o impacto sofrido pelo diagnóstico de HIV segue a necessidade de reestruturação e manutenção da vida em seus vários papéis. ZAMLUTTI (1996) ressalta que:
[...] para alguns dos idosos com HIV, parece não ter havido mudanças drásticas no estilo de vida. A condição de soropositivo é incorporada como mais um aspecto a ser vivenciado, não interferindo no modo de vida anterior ao diagnóstico. Para outros, a AIDS desperta sentimentos vividos intensamente, acarretando grandes alterações, principalmente a nível emociona/psicológico, tornando-se um incômodo constante. Sentimentos ambivalentes de tristeza, desorientação e desânimo, por um lado e tranqüilidade, por outro, surgem como características do modo de encarar o dia a dia. E, neste sentido, conviver com a soropositividade passa a requerer muito esforço. (ZAMLUTTI, 1996, p. 25)
O convívio com HIV/AIDS tornar-se mais complexo quando não se pode mais negar a doença, pois os primeiros sintomas começam a aparecer e a pessoa torna-se mais debilitada, mais magra e com a saúde mais frágil. Os momentos angustiantes e depressivos são mais intensos do que os vividos no período assintomático da AIDS. Apesar de tudo, o desejo de viver e de aproveitar a vida prevalece, em alguns momentos, onde ainda são preservados, originando sentimentos de esperança.
Dessa forma, por não estarem articulados em grupos de auto-ajuda e nem dispor de ambulatórios especializados em lidar com a complexa experiência de envelhecer com AIDS, o idoso não tem com quem dividir inseguranças e abominam ser alvo de discriminação. O preconceito, em muitos casos, brota de dentro para fora e os impede de falar a verdade.

13 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por intermédio do estudo realizado observa-se que para minimizar a incidência da infecção do vírus HIV/AIDS nos idosos, faz necessária uma comoção por parte dos profissionais da saúde em se envolver e sensibilizar-se como agentes multiplicadores, pois eles têm acesso direto a uma porcentagem considerável da população idosa e, além disso, possuem um papel importantíssimo de ensinar através do desenvolvimento de valores, de idéias e conteúdos.
E antes de tudo vencer a desinformação, o preconceito e a discriminação que envolve o portador do vírus HIV/AIDS. Bem como fazer com que o idoso soropositivo ou não perceber a sexualidade como elemento presente no processo de educação e empreendimento que conduz a uma reconstrução dos valores éticos e morais dos seres humanos. Essa postura deve ser exercitada diariamente e não apenas um assunto aprendido. É fundamental incluir os idosos em programas de prevenção.
No entanto a presença da família é fundamental para que os idosos possam enfim vencer não somente o preconceito social e familiar, mas também o preconceito que muitos deles passam a ter de si mesmo, com receio de serem discriminados.
Através da pesquisa realizada, evidenciou-se a necessidade de um acompanhamento da equipe de profissionais da saúde juntamente com a família para a inserção dos mesmos à sociedade de forma que não se sintam denegridos pela afecção da doença e dessa forma possam viver seus dias sem preconceitos consigo mesmo.

14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRASIL. Ministério da Saúde. Curso Básico de Vigilância Epidemiológica em HIV e AIDS. Brasília: Programa Nacional de DST e AIDS; 2005.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional do Idoso: perspectiva governamental. Seminário Internacional de Envelhecimento Populacional: uma agenda para o final de século. Brasília, 1996.
Boletim Epidemiológico – AIDS. Brasília: CNDST/AIDS. Ano I (01), 2004.
CAPODIECE, S. A Idade dos Sentimentos: amor e sexualidade após os sessenta anos. Bauru: EDUSC, 2000.
DELUIZ, N. Formação do trabalhador: produtividade e cidadania. Rio de Janeiro: Shape, 1995.
FIGUEIREDO, M.A.C. Profissionais de Saúde e atitudes frente à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Um estudo diferencial com base no modelo afetivo/cognitivo de Fishbein/Ajzen. 1994. 132fls. Tese de Livre Docência, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 1994.
FONSECA, Szwarcwald. Análise sócio-demográfica da epidemia de AIDS no Brasil, 1989-1997. Revista de Saúde Pública. 2002.
FREIHAT. GGN. O perfil da sexualidade no idoso ambulatorial [monografia]. São Paulo: Serviço de Geriatria e Gerontologia do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2003.
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PRILIP, N. B. A. O pulso ainda pulsa: o comportamento sexual como expressão da vulnerabilidade de um grupo de idosos soropositivos. São Paulo, 2004. Dissertação de Mestrado em Gerontologia. PUC-SP, São Paulo. 2004.
PROVINCIALI, Renata Maria. O convívio com HIV/AIDS em pessoas da terceira idade e suas representações: vulnerabilidade e enfrentamento. Minas Gerais. 2006. Dissertação de Mestrado em Psicologia. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP). 2006. Acesso em: 27 de fevereiro de 2009. Disponível em URL: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-09022007-155352/.
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ZAMLUTTI, M.E.M. O Mito da Velhice Assexuada: um ponto de reflexão. São Paulo: Ed. Maturidade, 1996.

1 comentários:

Anônimo disse...

[url=http://www.pi7.ru/main/2018-vladelec-poteryannoy-spyanu-kartiny-okazalsya-moshennikom.html ]Девочка-великан интригует экспертов [/url]
Точнее, хочу любви. Влюбиться хочу!!! За всю жизнь влюблялась 7 раз (это мало?). Всё безответно. Я не абсолютно общительная, долго привыкаю к людям вообще. Сейчас не работаю, ищу, ищу, не найду. Хотя, может, с одноог места работы позвонят. Но там женщины в большинстве случаев работают. Эххх.